Novo serviço de música enfrentará domínio da Apple


Apenas alguns anos atrás, um site na web que oferecia virtualmente todas as canções famosas que já foram gravadas para uso gratuito faria com que os executivos do setor de música telefonassem o mais rápido possível aos seus advogados.

Nas próximas duas semanas, o combalido setor de música, diante da queda continuada nas vendas de CDs e de um futuro que parece tenebroso, ajudará a introduzir um serviço que se enquadra com perfeição a essa descrição, o MySpace


Music.

O novo site é produto de uma joint venture entre o MySpace, site de redes sociais controlado pela News Corp., e as grandes companhias do setor de música - Warner Music Group; Sony BMG - joint venture entre a Sony e o grupo Bertelsmann; e Universal Music Group, subsidiária da Vivendi. Para obter lucros, o novo empreendimento pretende vender publicidade no site e vender downloads de música em parceria com a Amazon.com.

A EMI, a quarta e a menor das grandes gravadoras mundiais, não pretendia participar da empreitada quando os planos iniciais foram anunciados, em abril. Mas pessoas que estão familiarizadas com as negociações em curso entre a EMI, sediada no Reino Unido, e o MySpace afirmam que é bastante provável que ela venha a aderir ao site quando do lançamento, em troca de uma pequena participação acionária no empreendimento.

O MySpace Music, que substituirá uma área existente do site MySpace, em music.myspace.com, representa um esforço para oferecer aos apreciadores da música a espécie de abrangente arquivo com o qual só podiam sonhar, no passado. Mas também representa um esforço para resolver alguns dos problemas mais prementes da indústria da música.

As empresas do setor esperam que o serviço, que combinará a música ao cada vez mais popular mundo das redes sociais online, sirva para afrouxar o domínio que a Apple exerce sobre o setor de música digital, e que as ajude as recuperar a receita perdida nos últimos anos, nos quais as vendas de CDs vêm registrando quedas anuais da ordem de 10% e 20%.

Craig Scholl, presidente-executivo da Orchard, maior distribuidora de música em formato digital para as gravadoras independentes, diz que um setor de música cuja base de receita seja a publicidade poderia "facilmente apequenar o movimento de US$ 30 bilhões que a indústria da música como um todo movimenta no mundo hoje".

O apoio de Scholl é uma vitória para o serviço. Quando a idéia foi anunciada inicialmente, ele a questionou em uma mensagem de e-mail aberta às gravadoras independentes que sua empresa representa. Mas a Orchard agora aceitou oferecer seu catálogo de mais de um milhão de faixas no site.

Depois de obter mais informações sobre o empreendimento, disse Scholl, ele decidiu que o MySpace poderia remunerar os artistas de maneira justa e que música gratuita, bancada por publicidade, representava a única alternativa prática para o futuro do setor. "O MySpace Music representa a primeira iniciativa confiável, e em larga escala, nessa direção", ele afirmou.

Quando for introduzido, provavelmente pelo final do mês, o serviço contará com um catálogo de milhões de canções, todas elas prontas para audição instantânea. Os usuários poderão montar listas de execução pessoais com centenas de títulos, que eles poderão ouvir em sucessão para animar uma festa ou atenuar a monotonia de um longo dia de trabalho.

Também poderão postar uma dessas listas, com 10 músicas, em seus perfis públicos no MySpace, onde seus amigos as poderão ouvir e salvar as músicas preferidas em suas páginas.

Para transferir música a outro computador ou a um aparelho móvel como um iPod, os visitantes terão de adquirir faixas na loja de música digital online da Amazon.com. Ringtones para celulares estarão à venda pela Jamster, outra subsidiária da News Corp.

Cerca de cinco milhões de artistas usam o MySpace para interagir com os fãs, e o MySpace Music mudará também a vida deles. Agora, esses artistas podem postar até seis músicas em suas páginas. No site reformulado, eles poderão postar seus catálogos completos e receber parte da publicidade e da receita com downloads resultantes. Sony Pictures, McDonald's, State Farm e Toyota Motor estarão entre os primeiros patrocinadores do site. "O que estamos criando, na verdade, é uma economia que abarque todos os artistas da música", disse Chris DeWolfe, presidente-executivo da MySpace Music.

Streams de música gratuita na Internet não são exatamente novidade. A Imeem, uma empresa criada em San Francisco quatro anos atrás, e a Last.fm, controlada pela CBS Interactive, oferecem serviços mais ou menos com o mesmo acervo de música, vinda das mesmas gravadoras e artistas.

Dalton Caldwell, presidente-executivo da Imeem, disse que o MySpace já enfrentou dificuldades no passado para criar serviços capazes de enfrentar os líderes setoriais estabelecidos. O site MySpaceTv, por exemplo, não conseguiu destronar o YouTube no segmento de vídeos online. Mesmo com seu enorme tráfego, disse ele, "o MySpace não conseguiu criar serviços próprios capazes de derrotar as ameaças competitivas".

Mas os executivos das grandes gravadoras dizem que o MySpaceMusic oferece um palco maior e oportunidades financeiras mais polpudas do que muitos sites existentes de música. A despeito de recentes incursões pelo Facebook, que hoje dispõem de um total maior de usuários em todo o mundo, o MySpace continua a contar com mais de 120 milhões de usuários no mundo e dispõe de audiência superior à do Facebook nos Estados Unidos, boa parte da qual já está acostumada a usar o site para procurar novas atrações musicais e compartilhá-las com os amigos.

O caminho que conduz até o MySpace Music foi doloroso para a indústria da música. Cinco anos atrás, diversas gravadoras e organizações setoriais da indústria fonográfica processaram a MP3.com, um serviço que foi um dos pioneiros na idéia de oferecer streams gratuitos de qualquer canção, desde que o usuário provasse ser proprietário do CD em questão. A MP3.com saiu derrotada desse processo e terminou por fechar as portas.

Mas foi uma vitória de Pirro para o setor. As vendas de CDs não param de cair, desde então, e a Apple se tornou a líder mundial no setor de música digital, com a combinação entre a loja digital de música iTunes e o player iPod. E a atividade nos sites de troca de arquivos continua a prosperar.

"Para o consumidor médio, a música já é gratuita", disse Rich Greendfield, um analista da Pali Research. O MySpace Music significa que "agora as gravadoras decidiram aceitar o fato".

E também decidiram tentar lucrar com a tendência. Pessoas conhecedoras dos arranjos financeiros entre a News Corp. e as gravadoras dizem que as gravadoras controlam uma participação de 40% no empreendimento, e que a Universal Music, a maior do setor, detém também a maior porção entre as gravadoras. Isso daria às gravadoras um interesse direito no sucesso da MySpace Music. Pessoas informadas sobre os detalhes do acordo dizem que as gravadoras ofereceram termos favoráveis à MySpace Music, e que abriram mão da taxa de um centavo de dólar por faixa executada que cobram de outros sites que fornecem música em modo stream. O MySpace preferiu não comentar sobre os termos do seu contrato com as gravadoras.

O MySpace afirma que, no futuro, pretende permitir que artistas vendam produtos promocionais e ingressos para suas apresentações nas páginas do site, mediante uma comissão. Em prazo mais longo, dizem os executivos das gravadoras, eles acrescentarão conteúdo exclusivo tal como novas canções e vídeos ao MySpace Music e oferecerão promoções que encorajem clientes a baixar álbuns inteiros e coleções de música.

"Isso é algo que deveríamos ter feito mais cedo", disse Rio Caraeff, vice-presidente executivo da divisão digital do Universal Music Group. "É mais ou menos como um campo de preparação para que nós experimentemos com novos modelos de negócios".

Existe um novo obstáculo que a nova empreitada terá de superar: encontrar alguém para o posto de presidente-executivo. DeWolfe e Amit Kapur, o vice-presidente de operações do MySpace, comandaram a empreitada até agora, mas estão à procura de alguém para o posto. DeWolfe diz que a empresa terá 70 funcionários e que em breve vai se transferir para uma sede separada, perto do escritório central do MySpace, em Beverly Hills, Califórnia.

Fonte: Terra